O Cérebro Malhador
O metabolismo energético cerebral pode ser considerado quase totalmente oxidativo. Entretanto, seus diferentes tipos de células possuem perfis metabólicos distintos. Os neurônios são em sua maioria oxidativos, enquanto as células da glia (astrócitos e oligodendrócitos) processam glicose glicoliticamente, ou seja, produzem lactato e piruvato a partir da glicose.
Em humanos, o aumento no lactato plasmático durante o exercício ou após a administração intravenosa é oxidado pelo cérebro; e isso está associado a uma redução na utilização de glicose no cérebro e uso preferencial de lactato como substrato energético. O modelo shuttle astrocyte-neuron lactate (ANLS), pelo qual o glutamato liberado sinapticamente desencadeia a captação de glicose e a produção de lactato pelos astrócitos para o uso de neurônios é um dos fatos mais importantes dessa revisão.
Tradicionalmente considerado um produto final metabólico, marcador de patologia, ou molécula tóxica, o lactato tem função cerebral peculiar aos olhos conservadores com foco na modulação da excitabilidade neuronal, plasticidade neuronal e neuroproteção. Sabe-se que os astrócitos apresentam um estado altamente redutor, que favorece a conversão de piruvato em lactato nestas células.
Ele é formado através das vias glicogenólise e glicólise desencadeadas por sinais neuronais dependentes da atividade: noradrenalina (NA), vasoativo peptídeo intestinal (VIP), adenosina (ADO) e K +. Ainda, o lactato ativa cascatas de sinalização em neurônios através de transporte transmembrana via MCT2 e em receptores específicos (do tipo proteína G ativadora do sistema adenilato ciclase).
Recentemente, entendeu-se que o lactato - circulante ou formado no cérebro pelas células gliais - sinaliza vários circuitos neuronais envolvidos em funções homeostáticas (níveis circulantes de glicose); e de regulação da osmolaridade plasmática. Além de substrato energético para os neurônios, ele é atuante na plasticidade (mas não a glicose ou piruvato) induzindo a expressão de vários genes relacionados, como o Arc, Egr1 e Bdnf em neurônios corticais de camundongo cultivados.
Por Ana Luíza Leal, Rebecca Fioranni e Diego Aguiar
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