Gripe aviária

     


    A chamada “gripe aviária” ou, em inglês, Avian Influenza é uma doença zoonótica, isso significa que podem ser transmitidas entre um animal e outro, como também entre um animal e um humano. Entretanto, a espécie mais propícia à infecção é a das aves. Esta doença é causada por um vírus da gripe aviária A, que pertence à família Orthomyxoviridae, e pode ser classificado de dois principais subtipos, baseado na presença de duas glicoproteínas distintas localizadas na superfície do vírus, uma denomina-se hemaglutinina (que tem 16 variações antigênicas) e a outra neuraminidase (com 9 variações antigênicas). Dentro desta família, participam os vírus influenza B e C, isavirus e thogotovirus. Os subtipos geralmente são identificados por combinações como H5N1 ou H7N9.
    O primeiro relato de uma epidemia de gripe aviária, que afetou os seres humanos, foi em Hong Kong em 1997. Dezoito pessoas tiveram necessidade de hospitalização, e dessas dezoito apenas 12 sobreviveram.
    O vírus da influenza possui a capacidade de trocar o material genético próprio com outro vírus, formando assim mutações gênicas. Podem ocorrer variações nos antígenos de superfície dos três tipos de vírus, conhecidas como drift. Particularmente, o vírus H5N1 foi isolado em 1996 pela primeira vez, em gansos localizados em Guangdong, na China.
    Ainda que o modo de transmissão não esteja tão detalhado entre as aves, a principal forma de transmissão é a via oral-fecal. Há duas classificações para gripe aviária em aves: vírus da gripe aviária de alta patogenicidade (HPAI) e vírus da gripe aviária de baixa patogenicidade (LPAI), sendo mais comum o LPAI e causam menos impactos na saúde das aves. É natural a propagação desses vírus em aves aquáticas, como gansos e patos, e podem carregar os vírus de forma assintomática, agindo como reservatórios. Dessa forma, se houver um contato entre aves domésticas, através da água contaminada, contato com fezes contaminadas, elas contaminam-se também, eliminando grande quantidade pelas fezes, saliva e secreções respiratórias. Assim, há uma possibilidade maior de transmissão para humanos.
    Cabe ressaltar que a transmissão de humanos para humanos de H5N1 é rara. Contudo, pela alta capacidade de adaptação do vírus, pelos drift’s, há uma preocupação científica em relação a essa adaptação para uma forma capaz de transmitir a infecção entre humanos.
Estas infecções ocorrem em todas as faixas etárias, porém a nível de exposição e a localização geográfica podem infectar uma determinada faixa etária. Entretanto, as infecções por H5N1 são identificadas de maneira mais significativa em pessoas mais jovens e as infecções H7N9 acometem, majoritariamente, adultos mais velhos. Uma curiosidade é, as duas formas de infecção atingem mais o sexo masculino, provavelmente devido à presença mais numerosa e forte na avicultura, mercados de aves vivas, entre outros.
Em regiões endêmicas, as crianças são o principal grupo de risco, devido à proximidade com aves de quintal. Mas, quando adultos mais velhos são infectados, eles apresentam sintomas mais graves devido às comorbidades associadas à idade.
    A patogenicidade do vírus se dá devido a capacidade dele ligar-se a receptores específicos de ácido siálico, presente nas células hospedeiras. As proteínas hemaglutininas ligam-se, preferivelmente, aos receptores de ácido siálico (2,3), encontrados, majoritariamente, no trato gastrointestinal das aves. E em seres humanos, esses receptores estão localizados, em grande parte, no trato respiratório inferior (traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos e pulmões), explicando a pneumonia grave que pode acompanhar um indivíduo infectado por gripe aviária. Outro fator interessante é que, os receptores de ácido siálico (2,3) são encontrados nos olhos, explicando os sintomas de conjuntivite em alguns casos de infecção por H5N1. Curiosamente, o vírus da gripe humana ligam-se a receptores de ácidos siálicos (2,6) abundantes no trato respiratório superior, sendo mais fácil a transmissão do vírus.
    A replicação do vírus tende a ser longa e demorada em seres humanos, em alguns casos o período de incubação foi de, aproximadamente, 15 dias. A principal causa de mortalidade, devido à infecção por H5N1, é ligada à pneumonia viral primária, devido aos fatores citados anteriormente.
    O padrão ouro para o diagnóstico da gripe aviária é a reação em cadeia da polimerase reversa (RT-PCR), pois ela é capaz de detectar os subtipos do vírus da gripe aviária. Pode ser utilizado também amostras retiradas de lavagem broncoalveolar ou aspirados de traqueia para cultura, mas cabe ressaltar que esse tipo de exame deve ser realizado por laboratórios específicos de biossegurança de nível 3, devido ao material altamente contagioso. Além disso, como complemento a essa técnica, é utilizado radiografias de tórax, que frequentemente revelam infiltrados bilaterais.
    Para o tratamento dessa doença é utilizado, principalmente, medicamentos antivirais e cuidados de suporte. A classe principal de medicamentos utilizados são os inibidores da neuraminidase. Contudo, há cepas de vírus de gripe aviária que são resistentes aos inibidores da neuraminidase, sendo assim tratamentos alternativos ou terapia combinada é a principal decisão em situações como essas, ajudando a controlar essas infecções.


Texto elaborados pela discente de Farmácia da UERJ-ZO: Eduarda Schelck
Imagem elaborada por Inteligência Artificial
Revisão textual por Eduarda Schelck
Publicado por: Diego Aguiar e Eduarda Schelck
Link do artigo:
https://www.scielo.br/j/jbpneu/a/vMMwHvW5g8MwWb8wCbRDzJR e https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK553072/

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