Síndrome do Pensamento Único
Início o semestre letivo com uma breve reflexão. Estava eu e Juju em uma festa, totalmente relax, tomando uma cerveja. Ela iria dirigir é lógico. Aquela festa da firma, fora da firma. A maioria dos convidados são pesquisadores de instituições de pesquisa aqui no Rio de Janeiro. Pois então, todo mundo conversando, aquela musiquinha brejeira de fundo, a galera contando seus feitos, artigos publicados, alunos orientados, congressos, palestras, tal e coisa, coisa tal, falando de si mesmo em um misto de garbo, elegância e orgulho. Buscando a confirmação do outros, que genuinamente se mostram interessados. Até ai tudo normal! É assim mesmo! Eu também já fui assim, faz parte! É um processo.
Essa vibe foi até que lá pelas
tantas alguém discordou de um posicionamento. Nem era político! Era um posicionamento
mais pragmático, do tipo utilitarista. Nem vale a pena repetir aqui. Foto é que
a discussão foi evoluindo até virar uma briga. Onde todos concordavam com o
tema discutido, mas tinham vieses diferentes. Eu quieto estava, quieto fiquei
tomando minha cerva, só observando aquela bizarrice. Essa história durou uns 15
minutos. Em seguida cada um foi para seu lado e pequenos grupinhos se formaram
até o fim da festa.
Duas conclusões eu tiro disso tudo. A
primeira, é que cerveja continua ótima, e a segunda, é impossível discordar.
Todo mundo vive uma espécie de mundo da fantasia, onde só seu modelo de vida
funciona, só suas ideias servem, sem exceção. Não se pode apresentar outra
versão. As versões discordantes são logo taxadas de “ismo”. Mano que saco! Não
precisa ser inteligente para entender que este tipo de postura tem consequências
negativas significativas.
Estamos vivendo uma espécie de cegueira
coletiva. Nada é nada e tudo é tudo! Como diz meu ídolo Jorge Forbes “Estamos
desbussolados”. Discordar é natural, mas hoje gera uma fricção irremediável entre
as pessoas. Acredito que é sempre um processo de construção para entender a si
mesmo, mas a questão é que estamos vazios, o que nos faz brigar por nada ou sobre
migalhas de ideias. A origem é a superexposição de ideias, modelos de vida,
nutrição, posicionamento político gerada pelas redes sociais. Se tivéssemos um
olhar voltado para o impacto das ações e efetividade do mundo prático, metade
das discussões se extinguiria naturalmente.
Essa indigência cognitiva a que
estamos submetidos, nos impede de entender que a impossibilidade de discutir
ideias com o ex adverso nos emburrece. Em qualquer sociedade, a diversidade de
opiniões é essencial para um debate saudável e progresso social. Quando há uma
ausência de perspectivas divergentes, a estagnação intelectual é o que sobra, impedindo
o surgimento de qualquer consciência inovadora. Além disso, uma única opinião
pode levar à polarização e ao extremismo, pois não há espaço para a compreensão
mútua e o respeito pelas diferenças. A falta de debate e discussão pode levar à
adoção cega de ideias, sem questionamento ou visão crítica. O resultado prático
resulta em políticas unilaterais e danosas ao coletivo. Por fim, limitar-se a
uma única opinião diminui a capacidade de empatia e compreensão, dificultando a
construção de uma sociedade inclusiva e tolerante. Em contraste, promover a
diversidade de opiniões pode levar a soluções mais abrangentes e bem
fundamentadas para os desafios que enfrentamos. Não sei se sempre foi assim, ou
se estamos superexpostos, ou se é coisa dessa tal de pós-modernidade, ou se
estamos caminhando em direção a ditadura dos burros, mas o fato é que nos
ambientes onde o cidadão médio governa, existe império do pensamento único. É
impossível discordar ou se quer duvidar. Enquanto isso, quem sabe serpentear
neste mundo de pensamento único, domina pela divisão.
Por Diego Aguiar
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Exatamente, dividir para conquistar. Assim é mais fácil.
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