Conheça o projeto “Ciência para a Sociedade” do Museu de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


Em entrevista, Ludmila Ribeiro de Carvalho, coordenadora do projeto de extensão "Ciência para a Sociedade" e do Museu de Anatomia "Por dentro do Corpo" do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (ICB-CCS) nos conta todos os detalhes do projeto. Licenciada em Ciências Biológicas pela UERJ, Especialista em Ensino de Ciências pelo IFRJ, Mestre pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF- UFRJ) e servidora da UFRJ há 14 anos, Ludmila afirma que um dos principais objetivos do projeto é despertar o interesse pela busca do conhecimento científico e que o projeto vai muito além da divulgação do conhecimento sobre anatomia, pois também fascina e cativa o público com a experiência vivida no Museu da Anatomia – “Entender que os visitantes têm conhecimento para trazer pra gente é fundamental, então é sempre uma troca...”, afirmou Ludmila sobre o trabalho realizado nas visitas mediadas.

Com o objetivo de cativar o público infanto-juvenil e semear o desejo pelo conhecimento, o projeto visa explorar e popularizar a Ciência de forma lúdica e criativa, auxiliando na difusão de material científico e na consolidação de uma cultura científica como prática educativa na sociedade. Contudo, a coordenadora do projeto relata que surpreendentemente a procura pela visitação foi além do público-alvo – “...O projeto foi criado pensando nos alunos do Ensino Fundamental e Médio,  mas fomos surpreendidos com cursos técnicos e de nível Superior, e foi muito legal”, relatou a coordenadora. Recentemente o Museu recebeu a visitação de alunos de Farmácia da Fundação Centro Universitário da Zona Oeste (UEZO), sendo estes os primeiros universitários a visitarem o Museu além dos alunos da UFRJ.


O Laboratório Anatômico (Instituto de Ciências Biomédicas -UFRJ) foi revitalizado. Hoje, com o Museu de Anatomia, possui práticas educativas, oficinas e exposições ao público que, de forma criativa, lúdica e didática expõe seu grande acervo de peças anatômicas humanas plastinadas, modelos didáticos e exemplares de ceroplastia. O Museu da Anatomia, desde sua inauguração, passou a receber visitações escolares mediadas por alunos de graduação da UFRJ e, até o primeiro semestre de 2019, recebeu mais de 4600 visitantes. Leia abaixo a entrevista concedida gentilmente pela atual coordenadora Ludmila Ribeiro ao Blog Ciência em Minutos sobre o projeto “Ciência para Sociedade”.

Como se deu a concretização e o nascimento do Museu de Anatomia e como surgiu a ideia do projeto “Ciência para Sociedade?

Essa questão de divulgar a Anatomia para a sociedade surgiu aqui no ICB com um projeto mais antigo, que foi o “Mergulho no Corpo” coordenado pela falecida professora Jane Cristina. O Mergulho no Corpo trabalhava com os professores da rede pública que vinham aqui para o Instituto, onde eram realizadas práticas educativas da área de Anatomia, sendo uma formação continuada para os professores. Foi com a professora Daniela Uziel, primeira coordenadora do projeto Ciência para Sociedade, onde pensamos exatamente em trazer as escolas para ver as peças anatômicas que temos aqui. Ela foi a principal idealizadora desse projeto. Atualmente eu sou a coordenadora, tanto do projeto de extensão, quanto do Museu.

O projeto apesar de recente, apenas dois anos, conta com uma estrutura e organização fascinante com peças anatômicas que particularmente são verdadeiras obras de arte. Quantas pessoas estão envolvidas nesse projeto, é um grupo de cientistas?

Bom, nós temos uma equipe de parceiros. Temos o professor Adilson Salles, professor de Anatomia e também do Museu Nacional, o professor Fábio Mendes, que é coordenador do anatômico, o professor Marcos Fábio, que também é professor de Anatomia daqui. Quando a gente iniciou o projeto, fizemos reuniões para pensar educacionalmente como seria a estrutura do Museu, como arrumaríamos as vitrines, e como seria esse percurso. Muita coisa foi modificada de acordo com as necessidades, mas a ideia fundamental começou comigo e com esses professores. Contamos também com uma equipe de técnicos aqui do anatômico que contribuem com o projeto, e os alunos. Na verdade, o projeto funciona porque ele tem os alunos. Recepcionar as visitas, fazer a mediação no museu e as atividades são funções dos alunos de graduação dos diversos cursos da UFRJ.

Existe alguma projeção de levar esse projeto para as escolas?

Aqui no Instituto já existe um projeto que vai até as escolas, o “Ciência Sobre Rodas”. Ele funciona nesse outro sentido, de levar o conhecimento daqui para as escolas. Já tivemos uma procura de pessoas com interesse sobre isso, e não é uma possibilidade descartada. Porém o nosso foco, a princípio, é trazer pra cá os alunos para que possam vivenciar a experiência de estar na UFRJ, contemplar o material e as vitrines e estar nesse ambiente universitário e do anatômico.

Você mencionou que os alunos de graduação são uma importante peça no funcionamento do projeto. Como você vê a contribuição do projeto na vida acadêmica e profissional desses alunos?

A participação do aluno extensionista é fundamental. Atualmente temos cerca de 20 alunos. Tem alguns que entraram mais novinhos e outros mais maduros no curso de origem. É oferecido aos alunos um treinamento de mediação sobre o conteúdo das vitrines e a importância do mediador na interação com o público. Isso agrega demais à formação dos alunos, não só pelo conhecimento, mas inclusive pelo aprendizado nas relações interpessoais. Os alunos nos dão o retorno de que se sentem capacitados para lidar com o público e para compartilhar o conhecimento ao decorrer do trabalho no projeto. Alguns relatam perceber que sabem mais do que eles achavam que sabiam, o que acho divertido, pois não percebem que são jovens extremamente qualificados. Entram aqui com certo receio, sem saber como fazer para explicar para as pessoas e amadurecem no decorrer. Uma das nossas alunas - eu particularmente achei muito interessante o depoimento dela - relatou que não precisava mais estudar para as provas de Anatomia, porque o trabalho no Museu facilitou muito o processo de aprendizagem para ela. Eu sempre falo pra eles, que eles não estão aqui pra dar aula, e sim despertar o interesse de quem vem nos visitar sobre aquilo que eles estão vendo. Muitas vezes aquele é o primeiro contato científico que o visitante tem. Dessa forma, a importância da empatia com o outro é imprescindível. Entender que os visitantes têm conhecimento para trazer pra gente é fundamental, então é uma troca. Sempre é uma troca, de ambos os lados.

O projeto tinha inicialmente o público infanto-juvenil como alvo, recepcionam alunos desde o Ensino Fundamental e Médio, mas hoje também para as Escolas Técnicas e Ensino Superior. Existe alguma abordagem diferenciada para esses diferentes públicos?

Com certeza, na verdade o projeto foi criado pensando no Ensino Fundamental e Médio. Fomos surpreendidos primeiro com cursos técnicos querendo nos visitar, o que foi muito legal. Os alunos do Ensino Técnico são um dos públicos mais frequentes, principalmente os cursos técnicos de farmácia, radiologia e enfermagem. A visita dos alunos do curso de graduação de Farmácia da UEZO foi, na verdade, a primeira visita de universitários além dos próprios alunos da UFRJ. Projetos de extensão são feitos para a sociedade, e não para o público interno, não que os alunos daqui não devam visitar, mas buscamos ir além.

Quais seriam os objetivos futuros do projeto, e em relação a apoio financeiro ao projeto?

Posso dizer que o principal objetivo é ampliar o número de visitantes, com certeza. Apesar de ser bem interessante o Museu estar localizado no anatômico, é uma projeção nossa mudar de local aqui mesmo dentro do CCS. Gostaríamos de estar em um local de mais fácil acesso, ser um Museu com um horário de visitação mais abrangente e não restrito apenas a visitas pré-agendadas. Em relação a verbas, na verdade eu falo que o nosso projeto é um projeto baseado na criatividade e não no dinheiro. Temos dois anos de projeto e no primeiro ano conseguimos uma bolsa, recentemente conseguimos mais uma aluna bolsista. E essa ajuda de custo é muito boa, é realmente um prazer dar essa oportunidade para um aluno. A maioria deles é voluntário, mas posso afirmar que todo mundo que trabalha no projeto gosta muito. Há coisas na infraestrutura que estão aquém e o público percebe também, é óbvio. Mas a gente se sente de mãos atadas em relação a isso porque de fato há que se ter mais investimento aqui, mas da criatividade a gente vai fazendo alegria.

O Museu de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-CCS) nasceu da vontade de compartilhar com o público externo não só as peças anatômicas plastinadas, verdadeiras obras de arte produzidas no Instituto, mas também popularizar e difundir o desejo pelo conhecimento, pela descoberta. Instigar em todos os visitantes o pensamento questionador e científico. Nesse aspecto, a experiência de Ludmila Ribeiro durante os dois anos do projeto afirma ser transformadora – “Tem sido muito prazeroso receber a todos de qualquer nível de escolaridade. Vemos nos visitantes o encantamento de estar em uma universidade, sobretudo na UFRJ.  Com esse retorno entendemos a importância de estarmos aqui, abrir a universidade para o público. A inauguração do Museu foi parte do projeto de extensão Ciência para a Sociedade que tem por objetivo promover visitas escolares mediadas, apresentando o corpo humano ao público.

Para agendamento de visitas escolares, enviar e-mail para: museudeanatomia@icb.ufrj.br

Entrevista realizada pela integrante do Projeto Ciência em Minutos, Fabíola Duarte da Cunha, graduanda de Farmácia da UEZO


Comentários

  1. Ainda não conheço o trabalho, apesar de conhecer a sua história através da Ludmila, minha cunhada! Muito feliz pelo reconhecimento desse trabalho tão educativo. Aliás, um ótimo trabalho e uma ótima iniciativa! Parabéns à todos os envolvidos nesse projeto!! 😊👏👏👏👏👏👏👏

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  2. A equipe Ciência em minutos agradece!

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