Raft lipídica em xeque

     A ironia e o destino compõem uma mistura no mínimo engraçada e quando na ciência, ao engraçado agrega-se o curioso. Estudos da membrana celular evoluem a cada dia. Esses achados ajudam no desenvolvimento de medicamentos, novas formas terapêuticas e etc... mas desde sua descrição, muito tem mudado.
     
  Em 1970 foi postulado por Stier e Sackmann (Max-Planck-Institute of Biophysical Chemistry) a presença de microdomínios de membrana. Mais tarde, Singer e Nicolson em 1972 propuseram que a membrana era composta por um mosaico fluido, o que é aceito pela comunidade acadêmica até hoje. Um pouco mais tarde, estudos usando a difração de Raio-X, realizados pelo Dr. Karnovsky (Departments of Pathology, Physiology, and Biophysics, Harvard Medical School), mostraram a presença de domínios mais eletrodensos na membrana da célula, em 1982. Desde então, muito se evoluiu no estudo da membrana. 

     O conceito atual de Raft lipídica foi proposta pelos Professores Simons e Ikonen em 1997, que relatam que as Rafts são produzidas pelo Complexo de Golgi e transferidas em forma de vesículas que se fundem a membrana celular, funcionando assim como uma plataforma repleta de proteínas, enzimas e receptores que controlam diversas vias de sinalização celular implicadas na manutenção na homeostasia celular. O crescente interesse nesse assunto pode ser evidenciado em uma breve pesquisa a uma plataforma de busca científica, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Lipid+raft, onde 4279 trabalhos foram publicados até outubro de 2015 no tema, desde 1977. 

     Essa história ganhou um novo rumo em 18 de maio de 2015, onde foi publicado na renomada revista Nature Communication achados que põem em xeque a presença da Raft lipídica na membrana celular. Eva Sevcsik mostrou, através de um modelo de células hepáticas in vitro, que as Rafts lipídicas podem ser elementos artificias fruto de mal preparação da amostra. 

     Há quem ainda não esteja convencido completamente, como eu, mas de qualquer modo, os ânimos científicos estão exaltados. Em breve teremos mais capítulos dessa história. Ironicamente, mais uma vez a ciência se apresenta como o maior elemento transformador que conhecemos!

Por Diego Aguiar

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