A Hipóxia Como Causadora da Escoliose Congênita
A coluna vertebral é um alicerce torácico responsável
por suportar 2/5 do peso do corpo humano. Ela se estende da base do crânio até
o fim da pelve e é composta por uma sucessão de ossos formados por vértebras: o
sacro e o cóccix. Esta sequencia se forma durante a gestação e amadurece depois
do nascimento. Na maioria das vezes não há problema na morfogênese, entretanto
pode ocorrer malformação dessas sequencias de ossos da coluna provocando uma
doença chamada de escoliose.
A escoliose congênita consiste em deformidade da
coluna secundária a malformação das vértebras. Ocorre em cerca de 1 a cada 1000
nascidos vivos e é ligeiramente mais comum em meninas. Síndromes como a
disostose espondilotorácica e disostose espondilocostal, que se caracterizam
por múltiplos defeitos vertebrais graves contíguos, tem herança monogenética
recessiva. A escoliose congênita, por outro lado, tem herança genética
complexa, e provavelmente existe uma forte influência ambiental no seu desenvolvimento.
A exposição materna a diversas condições ambientais nas fases iniciais da gestação
está associada com a geração de defeitos vertebrais. Esses defeitos não são
resultado de falhas na formação óssea e sim em alterações no processo de
desenvolvimento do embrião.
O esqueleto axial é derivado do mesoderma pré somítico
(grupos celulares que se dividem em intervalos regulares) - processo denominado
somitogênese- nas fases iniciais da segmentação e formação do embrião. Os somitos
são os precursores não somente das vértebras, mas também da musculatura esquelética, tendões,
ligamentos, pele etc. As alterações na somitogênese levam a defeitos na formação
dos tecidos originados por esses grupos celulares, sendo comum a associação de
defeitos congênitos em órgãos e sistemas variados, principalmente o urinário e
cardíaco.
Recentes descobertas mostraram evidências para a
etiologia genética da escoliose congênita. Foram identificadas mutações nos
genes HES7-/- e MESP2-/- em indivíduos portadores de escoliose congênita. A
partir de então, em camundongos geneticamente modificados, demonstrou-se a
ocorrência de escoliose congênita associada a essas mutações genéticas, porém
com baixa penetrância. Contudo, é sabido que a severidade da escoliose é
multifatorial. Essa mesma pesquisa
levantou a hipótese de que a hipóxia poderia interferir no desenvolvimento
embrionário da coluna, aumentando a ocorrência de malformações congênitas; fato
conhecido há bastante tempo. A exposição dos embriões geneticamente modificados
(HES7-/- e MESP2-/-) a períodos de hipóxia durante o desenvolvimento embrionário
leva ao aumento da incidência e da gravidade dos defeitos vertebrais. Além disso,
o referido estudo mostrou que os defeitos ocorrem através da diminuição na
atividade das vias de sinalização WNT
e FGF, fundamentais durante o
processo da somitogênese (Figura).
Isso mostra que pequenas modificações no
ambiente gestacional podem causar grandes modificações na segmentação durante o
desenvolvimento e consequentemente defeitos congênitos esporádicos e graves.
Por Gustavo Borges e Diego Aguiar
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