Credibilidade e Reprodutibilidade Científica
A busca pela verdade científica nunca esteve tão na moda. Em
recente entrevista Emilie Marcus, diretora executiva (CEO) da renomada revista
“Cell Press”, falou sobre a reprodutibilidade científica e encoraja os
cientistas a aumentar o rigor em seus trabalhos, para que proporcionalmente
haja mais credibilidade na ciência que praticamos atualmente.
O século passado foi marcado pelos avanços científicos e
tecnológicos que mudaram a maneira como enxergamos e percebemos o mundo. Com a
popularização da ciência mais e mais pessoas tem dedicado suas carreiras a
entender desde os fenômenos naturais, até o desenvolvimento de novas técnicas,
metodologias e produtos. A chamada “Science
Business”, um desdobramento da ciência acadêmica, tem em sua característica
magna a necessidade de ser muito objetiva e ágil, pois o investidor almeja o
retorno do seu investimento na forma de um produto o mais rápido possível.
Nessa modalidade a reprodutibilidade deve ser próxima dos 100% para que a
credibilidade do produto se mantenha elevada. Entre os maiores investidores
encontram-se as indústrias farmacêuticas. Todas essas descobertas são
protegidas por patentes e geram na maioria das vezes enormes dividendos. O
rigor com o qual a indústria realiza suas pesquisas é de certo modo inspirador,
pois ao fim de cada uma delas é gerado um produto. Caso este produto não atenda
a expectativa terapêutica ou não seja um “medicamento” seguro, outros milhões
($$$) serão gastos com indenizações.
Já a ciência acadêmica, na qual quase a totalidade dos cientistas
passa durante os estágios de formação, nunca existiu até os últimos anos
nenhuma forma de regulação ou punição, a não ser a reprodutibilidade dos dados
publicados pelos seus próprios pares. Por isso, agências de fomento privadas e
públicas de diversos países criaram comitês que julgam denúncias de má conduta
acadêmica, plágio e publicação de resultados falsos. No Brasil, a FAPESP
(Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado de São Paulo) analisou, julgou e puniu
um punhado de pesquisadores paulistas que comprovadamente agiram de forma
desonrosa. Eles estão listados no link: http://www.fapesp.br/8577
A ciência mundial recentemente foi do céu ao inferno em poucos
meses. O céu foi quando nos deparamos com uma publicação na Nature que apresentava a possibilidade de
induzir “células-tronco” de qualquer tecido simplesmente alterando o pH do meio
de cultivo destas células (as famigeradas "STAP Cells"), e o inferno foi quando descobrimos que estes
resultados eram falsos. O evento gerou um grande mal estar acadêmico e vergonha
infinita nos autores, o que levou ao suicídio do renomado pesquisador Yoshiki Sasai, um dos co-autores, e ex-orientador
da principal autora do artigo, a japinha Haruko Obokata.
Dada à importância do tema, em junho de 2014, os pesquisadores
americanos Francis Collins (Diretor do NIH), Marcia McNutt (Editora Chefe da Science) e Philip Campbell
(Editor Chefe da Nature)
organizaram um encontro científico cujo objetivo maior era discutir a
reprodutibilidade científica. Ao fim deste encontro foi assinada uma
recomendação para ampla divulgação entre os pares (http://www.nih.gov/about/reporting-preclinical-research.htm).
Vale conferir!!!
Mesmo com alguns desencantos a ciência sempre será encantadora.
Ela te dá gratuitamente a oportunidade de ser melhor todos os dias e ainda ser
remunerado por descobrir algo que o mundo precisa saber.
Parafraseando um dos maiores cientistas que já conheci, “não
importa o quanto a ciência e tecnologia transformem o mundo, o ser humano
sempre será o maior problema a ser resolvido”.
Por Diego Aguiar
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